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Dificuldades de aprendizagem na escola: como o professor pode acolher, intervir e não adoecer no processo

Dificuldades de aprendizagem na escola: como o professor pode acolher, intervir e não adoecer no processo

Entenda como identificar e lidar com dificuldades de aprendizagem na escola a partir do olhar do professor. Descubra estratégias práticas, acolhedoras e realistas para apoiar os alunos sem adoecer emocionalmente no percurso.


Você entra em sala de aula, olha para a turma, explica o conteúdo passo a passo, repete a atividade, muda a estratégia… e, ainda assim, alguns alunos não avançam.

Enquanto a maioria acompanha, esses alunos continuam:

  • perdidos na leitura,
  • confusos com cálculos simples,
  • inseguros para escrever uma frase,
  • ou desligados de qualquer proposta.

Ao mesmo tempo, a coordenação cobra resultados, as famílias fazem perguntas, a burocracia aumenta… e você, lá no meio de tudo, sente que precisa dar conta de trinta realidades diferentes em quarenta e cinco minutos.

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Dificuldades de aprendizagem na infância

Nesse cenário, é comum surgir um pensamento silencioso:

“Eu sei que esse aluno tem potencial, mas eu já tentei tanta coisa… o que mais eu posso fazer?”

Por isso, este artigo foi escrito para você, professor, educador, auxiliar, mediador, coordenador pedagógico, que lida diariamente com dificuldades de aprendizagem na escola e, ao mesmo tempo, tenta não perder o amor pelo que faz.

Ao longo do texto, vamos:

  1. esclarecer o que são, de fato, dificuldades de aprendizagem;
  2. diferenciar desinteresse de dificuldade real;
  3. reconhecer sinais que aparecem em sala de aula;
  4. refletir sobre causas possíveis (pedagógicas, emocionais e neurobiológicas);
  5. propor estratégias práticas para o dia a dia docente;
  6. cuidar também de você, que está na linha de frente.

O que são dificuldades de aprendizagem na escola?

Antes de tudo, é importante lembrar que dificuldade de aprendizagem não é sinônimo de incapacidade.
Em termos simples, falamos em dificuldades de aprendizagem na escola quando o aluno encontra barreiras persistentes para aprender determinados conteúdos ou habilidades, mesmo quando o professor ensina, revisa, adapta e acompanha de perto.

Na prática da sala de aula, essas dificuldades costumam aparecer:

  • na leitura e na escrita (leitura muito lenta, trocas de letras, escrita ilegível, não compreensão do texto);
  • na matemática (dificuldade para contar, organizar operações, entender problemas, compreender quantidade);
  • na organização e atenção (não termina tarefas, se dispersa facilmente, esquece materiais, se perde nas instruções);
  • na compreensão geral (não acompanha explicações orais, não entende o comando, precisa de muitas repetições).

Ainda assim, é fundamental destacar que a criança ou o adolescente com dificuldade de aprendizagem continua sendo um sujeito de direitos, potências e histórias.
Ou seja, o aluno não “é a dificuldade”; ele tem uma dificuldade em determinado contexto, em determinado conteúdo e em determinado momento de desenvolvimento.


Dificuldade de aprendizagem x falta de interesse: como diferenciar?

Em sala de aula, é muito comum ouvir explicações como:

  • “Ele não aprende porque não quer.”
  • “Ela é inteligente, mas é preguiçosa.”

No entanto, quando olhamos com mais profundidade, percebemos que muitos comportamentos interpretados como desinteresse são, na verdade, estratégias de proteção.

O aluno que:

  • faz piada o tempo todo,
  • vira o “palhaço da turma”,
  • ou diz que “não está nem aí para a escola”,

pode, na verdade, estar tentando esconder a vergonha de não conseguir acompanhar.

Assim, enquanto o rótulo de “desinteressado” afasta, a compreensão de que existe uma dificuldade real aproxima.
Por isso, ao observar um aluno que sempre foge das atividades, vale se perguntar:

“Ele não faz porque não se importa ou porque já se convenceu de que não consegue?”

Quando você muda essa pergunta, você muda a forma de intervir.
Ao invés de apenas cobrar, você passa a investigar, acolher e ajustar a prática.


Sinais de dificuldades de aprendizagem vistos pelo olhar do professor

Embora cada aluno seja único, alguns sinais se repetem e, portanto, ajudam você a identificar possíveis dificuldades de aprendizagem na escola.

1. Na leitura e escrita

O aluno:

  • evita ler em voz alta, porque tem medo de errar e ser alvo de risos;
  • lê muito devagar, silabando cada palavra;
  • troca letras (b/d, p/q, m/n) com frequência;
  • não consegue copiar corretamente da lousa;
  • escreve com muitas omissões de sílabas;
  • não compreende o que acabou de ler, mesmo quando lê com fluência aparente.

2. Em matemática

O aluno:

  • ainda conta nos dedos em séries em que a turma já automatizou certas habilidades;
  • se confunde com sinais (+, –, ×, ÷);
  • tem dificuldade para organizar números em colunas;
  • erra problemas simples, principalmente os de “história”;
  • demonstra medo, bloqueio ou recusa quando a aula é de matemática.

3. Na atenção, comportamento e organização

O aluno:

  • se dispersa com qualquer movimento ou estímulo;
  • não inicia a atividade sem ajuda direta;
  • esquece com frequência cadernos, materiais e tarefas;
  • não acompanha a sequência de instruções (por exemplo: “abra o caderno, copie o título e responda a questão 1”);
  • alterna entre agitação e desmotivação.

4. Na autoestima acadêmica

O aluno:

  • diz que é “burro”, “lento” ou “o pior da sala”;
  • se compara o tempo todo com colegas;
  • demonstra ansiedade intensa em avaliações;
  • prefere parecer “desinteressado” a assumir que não entendeu.

Quando esses sinais se repetem em diferentes atividades, ao longo do tempo e em vários contextos, é importante registrar, observar e compartilhar com a equipe pedagógica e com a família.


Possíveis causas: por que tantos alunos têm dificuldades de aprendizagem?

Em vez de culpar apenas o aluno ou apenas o professor, é mais justo reconhecer que as dificuldades de aprendizagem na escola surgem de um conjunto de fatores.

1. Fatores pedagógicos

Muitas dificuldades aparecem ou se agravam porque:

  • o currículo está acelerado e pouco flexível;
  • a turma é numerosa e heterogênea;
  • há poucas oportunidades de revisão e retomada;
  • o aluno passou de ano sem ter consolidado habilidades básicas;
  • o método de ensino não corresponde ao estilo de aprendizagem daquele estudante.

Ou seja, mesmo com boa vontade, o professor fica limitado por tempo, estrutura, turmas cheias e cobrança por resultados imediatos.

2. Fatores emocionais e contextuais

Além disso, o aluno não chega “vazio” à escola.
Ele chega com:

  • conflitos familiares,
  • mudanças recentes (de casa, cidade, país),
  • experiência de luto, separação ou violência,
  • inseguranças pessoais,
  • episódios de bullying ou exclusão.

Consequentemente, emoções como medo, vergonha, tristeza e ansiedade interferem diretamente na atenção, na memória e na disponibilidade para aprender.

3. Fatores neurobiológicos e de saúde

Ao mesmo tempo, algumas dificuldades de aprendizagem estão ligadas a:

  • transtornos específicos de aprendizagem, como dislexia e discalculia;
  • transtornos de atenção, como TDAH;
  • dificuldades sensoriais (visão, audição) não diagnosticadas;
  • privações de sono, alimentação desregulada ou uso excessivo de ecrãs.

Nesses casos, a intervenção pedagógica é fundamental, porém precisa caminhar junto com avaliação e acompanhamento de saúde.


A dor silenciosa do professor diante das dificuldades de aprendizagem

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Enquanto tudo isso acontece com os alunos, existe outra realidade importante: a dor do professor.

Você:

  • sente-se cobrado por resultados que, muitas vezes, não dependem só de você;
  • carrega a frustração de ver um aluno “travado” e não conseguir ajudá-lo como gostaria;
  • sofre ao perceber que as famílias nem sempre compreendem as limitações do sistema;
  • tenta adaptar, acolher, planejar e ainda cumprir metas, relatórios, reuniões e formações.

Com o tempo, essa pressão constante pode gerar:

  • sensação de impotência;
  • desgaste emocional;
  • perda de sentido do trabalho;
  • vontade de “apenas cumprir tabela” para sobreviver.

Por isso, ao falar de dificuldades de aprendizagem na escola, também precisamos reconhecer e validar o sofrimento de quem está do lado de cá da lousa.
Seu cansaço não é falta de vocação; muitas vezes, é consequência de um sistema que exige muito e oferece pouco suporte.


O que o professor pode fazer na prática?

Embora você não consiga resolver tudo sozinho, há ações pedagógicas concretas que podem tornar a sala de aula um espaço mais acessível e menos doloroso para quem tem dificuldades de aprendizagem.

1. Explicar de formas diferentes, não apenas repetir

Em vez de explicar “a mesma coisa do mesmo jeito” várias vezes, vale:

  • usar exemplos concretos do cotidiano do aluno;
  • utilizar recursos visuais (quadros, esquemas, desenhos, mapas mentais);
  • incentivar o uso de materiais manipuláveis (tampinhas, palitos, blocos, figuras);
  • propor que os alunos expliquem uns aos outros o que entenderam.

Assim, você oferece múltiplas portas de entrada para o mesmo conteúdo.

2. Quebrar tarefas grandes em pequenos passos

Quando a atividade é longa, o aluno com dificuldade de aprendizagem se sente esmagado antes mesmo de começar.
Por isso, é útil:

  • dividir a tarefa em etapas claras;
  • apresentar apenas uma parte por vez;
  • usar marcadores visuais (setas, números, destaques) indicando a ordem de execução;
  • celebrar cada pequeno progresso.

Dessa forma, o aluno vai construindo a sensação de “eu consigo”, ainda que devagar.

3. Diferenciar expectativas sem humilhar

Nem sempre todos os alunos vão alcançar o mesmo nível de desempenho no mesmo tempo.
Ainda assim, todos precisam sentir que há um lugar para eles na aula.

Você pode, por exemplo:

  • reduzir a quantidade de questões para alguns alunos, mantendo a mesma habilidade trabalhada;
  • permitir que o aluno responda oralmente parte da atividade;
  • adaptar a forma de avaliar (mais tempo, apoio visual, enunciados mais claros);
  • usar avaliações formativas, não apenas provas finais.

Tudo isso pode ser feito com discrição, de modo que o aluno não se sinta exposto na frente da turma.

4. Dar feedbacks que fortaleçam a autoestima acadêmica

Em vez de destacar apenas o erro, você pode:

  • reconhecer o esforço (“Percebi que você insistiu mais hoje”);
  • apontar avanços específicos (“Semana passada você não conseguia ler essa palavra, agora já consegue”);
  • mostrar que o erro faz parte do processo (“Você errou essa, mas veja como já acertou aquelas outras”).

Assim, o aluno começa a construir uma nova narrativa sobre si:

“Talvez eu não seja burro; talvez eu só precise de mais tempo e ajuda.”

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5. Trabalhar em rede: escola, família e serviços de apoio

Embora você faça muito dentro da sala, não é sua obrigação fazer tudo sozinho.
Por isso, sempre que possível:

  • registre suas observações de forma organizada;
  • compartilhe com a coordenação e o serviço de apoio (quando houver);
  • convoque a família para dialogar, com respeito e clareza;
  • sugira, com cuidado, a busca por avaliação especializada quando necessário.

Quando família, escola e profissionais de saúde caminham juntos, o aluno sente mais segurança para tentar de novo.


E quem cuida do professor que cuida?

Falar de dificuldades de aprendizagem na escola sem falar da saúde emocional do professor é deixar metade da história de fora.

Por isso, é importante que você:

  • reconheça seus limites humanos e profissionais;
  • peça ajuda à equipe quando sentir que um caso está pesado demais;
  • participe de formações que te apoiem, e não apenas te cobrem;
  • mantenha espaços de troca com colegas, onde seja possível falar da prática sem julgamento;
  • cuide minimamente do seu descanso, da sua saúde física e das suas relações fora da escola.

Você não precisa ser herói nem mártir.
Você é um profissional da educação que merece condições minimamente dignas para trabalhar.


Seus alunos não são apenas dificuldades: são histórias em desenvolvimento

Apesar de todas as pressões, vale lembrar todos os dias que cada aluno é uma história em curso.
Muitos deles, que hoje enfrentam dificuldades de aprendizagem na escola, podem se tornar adultos criativos, sensíveis, competentes, justamente porque encontraram, no meio do caminho, um professor que não desistiu deles.

Talvez esse professor seja você.

Por isso, mesmo quando o sistema pressiona, quando as turmas são grandes, quando os recursos são poucos, o seu olhar ainda faz diferença:

  • quando você escolhe não humilhar;
  • quando você adapta em vez de rotular;
  • quando você diz “vamos tentar de outro jeito”;
  • quando você enxerga o aluno para além do boletim.

Se este tema faz parte do seu dia a dia, continue explorando os conteúdos do blog.
Aqui, a intenção é que você encontre, sempre, apoio, reflexão e ferramentas práticas para seguir ensinando com técnica, sensibilidade e cuidado – sem se perder de si no caminho.

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