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Neurociência e educação: como usar o cérebro a seu favor na sala de aula

Neurociência e educação: como usar o cérebro a seu favor na sala de aula

pexels-pragyanbezbo-1720186-1024x683 Neurociência e educação: como usar o cérebro a seu favor na sala de aula

Descubra como aplicar princípios da neurociência na educação, criar estratégias pedagógicas para atenção, melhorar a memória dos alunos e intervir com segurança em sala de aula, sem se sobrecarregar como professor.


Você prepara a aula com carinho, organiza o quadro, escolhe atividades interessantes, porém, quando a turma entra, tudo parece escapar pelos dedos, não é?

Alguns alunos não conseguem manter a atenção por mais de poucos minutos, outros se distraem com qualquer movimento, enquanto vários esquecem completamente o conteúdo que você trabalhou na semana anterior.

Ao mesmo tempo, a escola cobra resultados, as famílias têm expectativas, e você tenta, a cada dia, manter o equilíbrio entre ensinar, acolher, controlar a turma e ainda cumprir prazos, relatórios e formações.

Nesse cenário, é natural que você se pergunte:

“Existe alguma forma de organizar a aula que ajude o cérebro dos alunos a prestar mais atenção e a lembrar do que eu ensino?”

A boa notícia é que a neurociência e a educação podem caminhar juntas, de forma prática e acessível.
Assim, neste artigo, vamos conversar sobre:

  1. o que a neurociência tem a ver com a sala de aula;
  2. estratégias pedagógicas para atenção dos alunos;
  3. como melhorar a memória dos alunos sem atividades milagrosas;
  4. e como a intervenção do professor em sala de aula pode ser mais intencional, humana e eficiente.

Tudo isso com um olhar que considera, ao mesmo tempo, a realidade do professor e os limites do contexto escolar.


O que a neurociência tem a ver com a educação?

Antes de mais nada, é importante lembrar que neurociência não é “moda da vez”, nem um conjunto de termos complicados para decorar.
Na prática, a neurociência estuda como o cérebro funciona, enquanto a educação lida diariamente com como as pessoas aprendem.

Por isso, quando aproximamos neurociência e educação, conseguimos:

  • compreender melhor como a atenção é capturada e mantida;
  • entender como a memória é construída e consolidada;
  • planejar atividades que respeitam limites cognitivos reais, como tempo de foco e sobrecarga mental;
  • intervir em sala de aula de forma mais intencional e menos baseada apenas em tentativa e erro.

Assim, em vez de pensar que “o aluno não quer nada com nada”, você passa a se perguntar:

  • “Será que o ambiente está muito carregado de estímulos?”
  • “Será que a forma como eu organizo a explicação favorece a memória?”
  • “Será que esse aluno já está exausto emocionalmente antes mesmo de chegar à escola?”

Dessa forma, a neurociência não substitui a experiência do professor, mas acrescenta ferramentas para que você decida, com consciência, o que faz sentido mudar na prática diária.


Estratégias pedagógicas para atenção: a porta de entrada da aprendizagem

Sem atenção, não há aprendizagem.
Por isso, quando falamos em estratégias pedagógicas para atenção, estamos falando de como abrir e proteger a porta de entrada das informações no cérebro.

1. Atenção é limitada e precisa de pausas

O cérebro dos alunos, assim como o seu, não foi feito para manter foco intenso por longos períodos sem descanso.
Consequentemente, aulas expositivas muito longas, com poucos momentos de participação ativa, tendem a gerar dispersão, inquietação e cansaço.

Por isso, você pode:

  • alternar momentos curtos de explicação com pequenas atividades práticas;
  • intercalar fala do professor com perguntas rápidas aos alunos;
  • usar “pausas ativas” de 1 a 2 minutos para alongar, respirar ou reorganizar o ambiente.

Assim, você respeita o funcionamento natural da atenção, em vez de lutar contra ele.

2. Início da aula como “gancho” para o cérebro

O cérebro presta mais atenção ao que faz sentido, surpreende ou desperta emoção.
Portanto, o início da aula é precioso.

Você pode, por exemplo:

  • começar com uma pergunta provocadora relacionada ao tema;
  • trazer uma situação real do cotidiano dos alunos;
  • mostrar uma imagem, um pequeno vídeo ou um objeto que desperte curiosidade;
  • resgatar algo da aula anterior e conectar com o que virá a seguir.

Dessa forma, antes de mergulhar no conteúdo, você liga o botão da relevância no cérebro dos alunos.

3. Variação de canais: visual, auditivo e cinestésico

Além disso, a atenção se fortalece quando diferentes canais são ativados.
Por isso, em vez de usar apenas a fala, você pode:

  • escrever palavras-chave no quadro;
  • desenhar esquemas simples;
  • usar cartões, imagens ou gráficos;
  • propor pequenas ações físicas (levantar para votar, trocar de dupla, movimentar-se no espaço).

Assim, enquanto um aluno se conecta melhor pela escuta, outro se envolve mais com o visual, e outro precisa pôr o corpo em movimento para sustentar a atenção.

4. Regras de atenção combinadas, não apenas impostas

Além do planejamento, a clareza de regras ajuda o cérebro a se organizar.
Por isso, ao estabelecer combinados de atenção (por exemplo: como pedir a palavra, como se organizar para ouvir o colega, como registrar o que é importante), você reduz a quantidade de decisões que o aluno precisa tomar o tempo todo.

Consequentemente, sobra mais energia mental para focar no conteúdo, não apenas no “como se comportar”.


Como melhorar a memória dos alunos de forma prática

Depois da atenção, vem o próximo desafio: fazer com que o conteúdo não desapareça da memória em poucos dias.
Assim, quando falamos em como melhorar a memória dos alunos, estamos, na verdade, falando de como transformar o que foi visto hoje em aprendizagem que permanece.

1. Memória de trabalho x memória de longo prazo

Em termos simples, podemos pensar em dois espaços:

  • a memória de trabalho, que funciona como um “quadro branco” momentâneo;
  • a memória de longo prazo, que é como um arquivo onde as informações ficam guardadas.

Quando o aluno está em aula, a memória de trabalho recebe muitas informações ao mesmo tempo.
Porém, se ele não revisa, não elabora e não usa essas informações de novo, elas dificilmente são registradas na memória de longo prazo.

Por isso, não basta “explicar bem uma vez”; é preciso criar oportunidades de retomada.

2. Recuperação ativa: fazer o aluno lembrar, não só reler

Uma das estratégias mais eficazes da neurociência para a memória é a recuperação ativa.
Em vez de pedir ao aluno apenas que releia o conteúdo, você pode:

  • propor que ele feche o caderno e tente explicar com as próprias palavras;
  • pedir que ele faça um resumo a partir da lembrança, antes de consultar o material;
  • sugerir que ele ensine o conteúdo a um colega;
  • usar perguntas rápidas no início da aula seguinte para recuperar o que foi visto.

Assim, o cérebro é convidado a buscar as informações, o que fortalece bastante a memória.

3. Prática espaçada: revisar em doses pequenas, porém constantes

Além disso, a memória se beneficia da revisão distribuída no tempo.
Ou seja, é mais eficiente revisar um pouco em vários dias do que estudar muitas horas seguidas apenas na véspera da prova.

Na prática, você pode:

  • retomar rapidamente o conteúdo da semana anterior;
  • reservar alguns minutos em cada aula para revisar pontos-chave;
  • usar jogos de perguntas e respostas como forma de revisão;
  • incentivar que os alunos tenham “cartões de estudo” com conceitos importantes.

Dessa forma, o cérebro recebe a mensagem de que aquele conteúdo é relevante e recorrente, o que favorece o armazenamento.

4. Elaboração e conexão com a realidade

Além da repetição, a memória se fortalece quando o aluno conecta o conteúdo com sua própria vida.
Portanto, sempre que possível, você pode:

  • pedir exemplos que façam sentido para a realidade deles;
  • construir analogias e metáforas;
  • relacionar o tema com situações concretas (família, bairro, notícias, redes sociais).

Assim, o conteúdo deixa de ser apenas algo abstrato e passa a ser parte da experiência do aluno, o que o cérebro tende a guardar com mais facilidade.


Intervenção do professor em sala de aula: pequenas ações que fazem grande diferença

Depois de entender melhor a atenção e a memória, surge outra pergunta importante:

“Na prática, o que eu posso fazer ali, no calor da aula, para ajudar quem está ficando para trás?”

A intervenção do professor em sala de aula não precisa ser grandiosa para ser poderosa.
Frequentemente, são as pequenas ações consistentes que produzem mudanças significativas.

1. Antes da aula: preparar o terreno

Antes que os alunos entrem, você pode:

  • organizar o espaço, evitando excesso de estímulos visuais desnecessários;
  • deixar no quadro o título, o objetivo da aula e a sequência de atividades;
  • separar materiais de forma prática, para não perder tempo e foco durante a explicação.

Assim, quando a aula começa, o cérebro dos alunos encontra um ambiente mais previsível e acolhedor.

2. Durante a aula: intervir com olhar individual dentro da turma

Enquanto a aula acontece, você pode:

  • circular pela sala, observando quem está perdido e quem está engajado;
  • se aproximar discretamente do aluno que está disperso, tocando na mesa, chamando pelo nome em tom calmo;
  • repetir instruções de forma simplificada para quem não acompanhou, sem expor na frente de todos;
  • oferecer modelos (“olha como eu resolvi essa primeira, agora tente a próxima sozinho”).

Dessa forma, você intervém sem interromper completamente o fluxo da aula, ao mesmo tempo em que não deixa o aluno invisível no meio da turma.

3. Depois da aula: registrar, refletir e articular com a equipe

Após a aula, mesmo que o tempo seja curto, vale a pena:

  • anotar brevemente quais alunos apresentaram maiores dificuldades de atenção ou memória;
  • registrar quais estratégias funcionaram melhor e quais não surtiram efeito;
  • compartilhar suas observações com coordenação, equipe de apoio pedagógico e, quando necessário, com as famílias.

Assim, a intervenção do professor em sala de aula deixa de ser isolada e passa a fazer parte de um cuidado maior, em rede.


Cuidar do cérebro de quem aprende… e de quem ensina

Enquanto falamos em neurociência e educação, em estratégias para atenção e memória e em intervenção do professor, é essencial lembrar que você também tem um cérebro que se cansa, erra, esquece e precisa de cuidado.

Você não é uma máquina de soluções pedagógicas.
Você é um profissional que sente, se frustra, se alegra e, muitas vezes, se culpa por não conseguir fazer mais.

Por isso, sempre que possível:

  • reconheça os avanços da turma e os seus avanços como educador;
  • celebre pequenas conquistas, como um aluno que conseguiu se concentrar por mais tempo ou lembrar do conteúdo sem cola;
  • busque espaços de formação que acolham, em vez de apenas cobraren resultados;
  • compartilhe suas angústias com colegas, para não carregar tudo sozinho.

Assim, enquanto você cuida da atenção e da memória dos alunos, você também protege a sua saúde emocional e cognitiva, o que é essencial para continuar na educação com sentido e qualidade.


Conclusão: pequenos ajustes, grandes impactos na aprendizagem

Ao aproximar neurociência e educação, ao aplicar estratégias pedagógicas para atenção, ao cuidar de como melhorar a memória dos alunos e ao tornar a intervenção do professor em sala de aula mais consciente, você não resolve todos os problemas da escola.

No entanto, você dá passos reais em direção a uma prática:

  • mais alinhada ao funcionamento do cérebro;
  • mais respeitosa com os limites dos alunos;
  • mais cuidadosa com os seus próprios limites;
  • e, principalmente, mais coerente com o propósito que te trouxe para a educação.

Se você sente que esse tema dialoga com a sua realidade, continue explorando os conteúdos do blog.
Aqui, a intenção é que você encontre ferramentas, acolhimento e inspiração para seguir ensinando com ciência, com técnica e, acima de tudo, com humanidade.

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